terça-feira, 28 de setembro de 2010

Nadar contra a maré




Bem-estar é o novo luxo

O sociólogo francês Gilles Lipovetsky conta como a era do hiperconsumo está transformando nossos conceitos e vontades

O sociólogo francês Gilles Lipovetsky, 66, tornou-se popular por escolher o consumo, a moda e o luxo como objetos de estudo. De jeans e sandálias, o autor de "A Felicidade Paradoxal" e "O Império do Efêmero" recebeu a reportagem na cobertura de um prédio na zona sul de São Paulo, onde foi hospedado.
Na cidade para um fórum mundial de turismo, Lipovetsky veio falar sobre o "consumo de experiência".
Abaixo, fala também da obsessão pela saúde e afirma: bem-estar é o novo luxo.

Folha - O que é "consumo de experiência"?
Gilles Lipovetsky - Vai além dos produtos que podem me trazer esse ou aquele conforto, ou me identificar com essa ou aquela classe. As razões para escolher um celular, hoje, vão além das especificações. Queremos ouvir música, tirar fotos, receber e-mails, jogar. Ter vivências, sensações, prazeres. É um consumo emocional.

Então, o que é o luxo, hoje?
O luxo, apesar de ainda existir na forma tradicional, também está mudando.
Quando buscamos um hotel de luxo hoje, não queremos torneiras de ouro, lustres. O luxo está nas experiências de bem-estar que o lugar pode oferecer. Spa, sala de ginástica, serviço de massagem. O bem-estar é o novo luxo.

Como consumir bem-estar?
Nos anos 60 e 70, quando o consumo de massa possibilitou que famílias de classe média se equipassem com produtos, o bem-estar ainda era medido em termos de quantidade. Hoje, o que está na cabeça das pessoas é o bem-estar qualitativo: a tal qualidade de vida. O que inclui a qualidade estética.

Qual a relação entre busca de bem-estar e uma sociedade mais e mais "medicalizada"?
A obsessão com a saúde e a prevenção é o lado obscuro do hiperconsumismo, gerador de ansiedade quase higienista. A quantidade de informação disponível torna o consumo complicado. Na alimentação, os consumidores estão ávidos pela leitura dos rótulos: quais são os ingredientes, de onde vêm, podem causar câncer, engordar? Há 40 anos, íamos ao médico uma vez por ano, se muito.
Hoje, um indivíduo faz até dez consultas por ano. O consumo de exames, para nos fazer sentir "seguros", cresce exponencialmente. Sintoma do hiperconsumismo: queremos comprar nossa saúde.


Como vê as campanhas contra o cigarro e a obesidade?
O hiperconsumidor está preso num emaranhado de informações e ele tem muitas regras a seguir. Parar de fumar faz parte da lógica da prevenção. É um sacrifício do presente em prol do futuro.
No hiperindividualismo, a gestão do corpo é central. Esse autogerenciamento permanente explica, também, a onda do emagrecimento.
Expor-se ao sol é arriscado, mas é considerado bonito ter a pele bronzeada. Privar-se de comer é privar-se do prazer. É um paradoxo que todos vivem e, por isso, no caso dessas mulheres subjugadas ao terrorismo da magreza, elas sentem culpa. As regras são contraditórias.


Qual é a saída para toda essa ansiedade?
As compras. Antes as pessoas iam à missa, agora elas vão ao shopping center.
Comprar, ir ao shopping, viajar -são as terapias modernas para depressão, tristeza, solidão. Você pode comprar "terapias de desenvolvimento pessoal". Um fim de semana zen, um pacote de massagens. Todas as esferas de vida estão subjugadas à lógica do mercado.

Por que as pessoas não se sentem felizes?
O hiperindividualismo aparece quando nossa sociedade nega as instituições da coletividade. A religião, a comunidade, a política. Os deuses são os homens. O indivíduo é um agente autônomo que deve gerenciar a própria existência. Esse indivíduo pode fazer escolhas privadas -que profissão fazer, com quem se casar, o que comprar- mas está submetido às regras da globalização econômica de eficácia, de produtividade, juventude, consumo. O acesso ao conforto material, enquanto sociedade, não nos aproximou da felicidade. Há tanta ansiedade, tanto estresse, tanta angústia e tanto medo que a abundância não consegue proporcionar um sentimento de completude.

Consumimos para esquecer?
Também. Mas há um outro lado. Desenvolvemos o que eu chamei de "don juanismo" [ele cita o personagem "Don Juan", da ópera de Mozart, que "conheceu" 1.003 mulheres]. Todos nos transformamos em Dons Juans.
Somos todos colecionadores de experiências. Temos medo que a vida passe ao largo.
Existe um senso comum que nos diz que se não tivermos vivido tal ou tal experiência, teremos perdido nossa vida.
É uma luta contra o tédio, uma busca incansável e viciada pela novidade, pela fuga da rotina.

São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2010
IZABELA MOI
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRÍSSIMA

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Faça o que eu falo...



20.08.10


De Eduardo Paes a Florestan Fernandes, que distância!

Ouvi hoje na rádio BandNews FM que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, admitiu ter recorrido a um hospital particular no começo deste mês para tratar um cálculo renal porque não confiava nos estabelecimentos públicos de saúde. Na segunda-feira dessa semana, o governador carioca Sérgio Cabral também foi internado em uma clínica privada, após torcer o joelho. Se eu morasse no Rio de Janeiro, a primeira questão que viria à cabeça seria: “Ué, mas se eles fazem tanta propaganda da melhora nos hospitais públicos, por que não os utilizam?”

Eduardo Paes foi sincero, temos que admitir. Afirmou que, como pode pagar por um plano de saúde, não vai entrar na fila de um Souza Aguiar da vida. Sua declaração revela o óbvio: a lógica que seguimos hoje continua a ser a de sucateamento do Estado, que vigorou nos anos de neoliberalismo e ainda não foi revertida. As classes alta e média, que podem custear tratamentos privados, o fazem sem pestanejar, enquanto o resto da população espera até um ano para marcar uma simples cirurgia.

Mas Eduardo Paes fez mais do que isso. Mostrou também qual é o tipo de político que temos: os que não são como Florestan Fernandes. Em agosto completa-se 15 anos da morte do sociólogo. Além de professor da Universidade de São Paulo, aquele que foi engraxate quando criança chegou duas vezes à Câmara dos Deputados. Entre outras, a ética e a coerência eram duas de suas maiores virtudes, como sempre lembram seus convivas.

Tanto que, aos 75 anos, quando já estava doente, não foi para uma clínica particular, mas sim para um hospital público. Queria ter o mesmo atendimento que os seus eleitores, o povo.

Dizem as más línguas que o então presidente Fernando Henrique Cardoso, que havia acompanhado de perto sua trajetória acadêmica, foi até o hospital tentar demovê-lo do que acreditava ser uma verdadeira loucura. Ofereceu até mesmo um tratamento nos Estados Unidos. Mas Florestan se negou a sair de lá e acabou falecendo em decorrência de um erro médico. E da ausência do Estado que lutava para (re)construir.

Não entendo isso como um sacrifício a ser louvado, mas como uma última lição que deveríamos aprender desse mestre. Em tempos de Eduardo Paes, Sérgio Cabral e tantos outros, será que ainda existem políticos assim? Pensemos nisso antes de votar.



Escrito por Maíra Kubík Mano às 11h41

(é jornalista. Mestre em Ciência Política, estuda a relação entre a mídia e as mulheres. É editora de Le Monde Diplomatique Brasil)

Boa Idéia!




O antivoto

Li por aí que, se você for se casar e quiser medir a intensidade da vida sexual a dois, é só reservar uma pia no apartamento do casal e, no primeiro ano de casamento, depositar nela uma bolinha de gude cada vez que fizerem amor.
E, a partir do segundo ano, retirar uma bolinha cada vez que acontecer.
Você ficará besta de ver como foi fácil encher a pia -e como parece difícil esvaziá-la.
Tirando o cinismo e o pessimismo, resta o realismo da observação: o ser humano é assim mesmo, capaz de banalizar o sublime.
Mas a ideia de um monitoramento diário poderia muito bem ser aplicada à administração presidencial.
Funcionaria assim: encerrada a campanha, efetuada a votação, apurados os votos e empossado o vencedor, a avaliação começaria imediatamente. Uma certa quantidade de cabines eleitorais, com mesário, fiscal etc., continuaria a funcionar full-time em cada cidade, apta a receber eleitores que, arrependidos, quisessem retirar seu voto no candidato.
A apuração desses antivotos seria diária e pública, e confrontada com a votação original.
Os telejornais e a internet divulgariam o resultado daquele dia:
"Hoje, o presidente recebeu 94.715 antivotos, perfazendo um total de 6.211.457 antivotos depositados desde a posse por pessoas insatisfeitas com sua administração. Mas, considerando-se os 48.313.989 que recebeu ao ser eleito, ainda mantém a confortável margem de 42.102.432 votos".
Se chegar a um patamar xis de desaprovação, o presidente deverá devolver o mandato e convocar novas eleições.
Tecnologia para apurar esses milhões de votos, temos de sobra.
Pena que, se vier a ser aplicado, tal sistema não alcançará a eleição de Dilma, Serra ou Marina.
A julgar por suas campanhas, desconfio que, em menos de dois anos, qualquer um deles, se eleito, já estaria no negativo.
RUY CASTRO
RIO DE JANEIRO
FolhaSP_Opinião, sexta-feira, 20 de agosto de 2010

* Descobrindo a Relação


D.R.*

Com ele, aprendeu que ninguém é de ninguém
A solidez se constrói com momentos insólitos
(aos olhos alheios, principalmente).
Com ele, compartilha a crença de que é dando
que se recebe...
Com ele, se encantou à primeira vista,
sem doces ilusões!
Com ele, é perigosa simplesmente para não ferir
ou ser ferida.
Com ele, entendeu o termo Pessoa Jurídica.
Ave César!