http://youtu.be/rYEDA3JcQqw
mais íntima
http://youtu.be/FiMK9e0h6YE
domingo, 26 de junho de 2011
terça-feira, 31 de maio de 2011
Ser "gauche" na vida
- Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Entrelinhas...
04/02/2011
Redação de cartas é uma arte que está desaparecendo!
O envelope chega com o endereço laboriosamente manuscrito e com o selo trazendo a figura da rainha perfeitamente colocado no canto superior direito.
O carteiro para a sua bicicleta para colocar a carta na caixa de correspondência e o cachorro emite dois latidos. É hora de fazer chá e ler.
A carta foi enviada por Joyce, a minha sogra de 75 anos de idade, que mora na Inglaterra. Ela é sempre escrita dos dois lados de uma única folha, em papel de boa qualidade, sem linhas e margens, e nenhuma textura especial ou perfume de lavanda. A redação é feita em um papel branco simples.
Ela escreve em letras manuscritas, em estilo claro, mas relaxado, que não procura impressionar o leitor. As suas palavras encaixam-se confortavelmente nos dois lados da página; os pensamentos dela fluem perfeitamente de um parágrafo ao outro. Não há finais dissonantes de parágrafo, postscriptum, ou siglas como OMG ou LOL. Nada de ícones smiley. Apenas palavras.
A mulher que escreve estas cartas ficou viúva recentemente. O marido dela foi durante décadas o colunista de pesca mais popular do Reino Unido, tendo escrito as suas colunas sem falha até cinco dias antes da sua morte, aos 88 anos de idade. A minha sogra cuidou dele em casa durante os seus últimos três anos de vida, até que ele morresse, ao lado dela, durante o sono.
A carta dela frequentemente demora quatro ou cinco dias para chegar a mim, mas a sensação rompe instantaneamente as barreiras de tempo e espaço. Sentada com a carta nas mãos, eu imediatamente visualizo a remetente: lá está ela, sentada à mesa na sala de jantar, com uma xícara de chá à sua direita, o rádio desligado ou com o volume baixo, os pensamentos fluindo pelos seus dedos para a página.
As cartas dela nos informam sobre as condições meteorológicas, a gentileza dos vizinhos, os empecilhos burocráticos vinculados à morte, as cartas de condolências que ela recebeu – em suma, sobre todos os detalhes relativos a recomeçar a vida sem o homem que ela amou durante 50 anos.
Quando acaba de redigir, ela veste o casaco, coloca a boina na cabeça e caminha até a caixa dos correios, bem a tempo para a coleta das 16h30.
Para ela, escrever uma carta em um momento de pesar é algo que faz parte da vida, é um sinal de civilidade e compromisso que mantém a sociedade coesa. Para a geração dela, dever e cortesia são coisas tão normais como respirar.
Eu me descubro formulando as perguntas: será que esta geração que desaparece será também a última a escrever cartas? Mensagens escritas à mão em vez de em fragmentos de código binário? Uma escrita que contém emoções em vez de emoticons?
A redação de carta é uma das artes mais antigas. Pensem em cartas e imediatamente vêm à mente as figuras de Paulo de Tarso, Abraham Lincoln, Jane Austen, Mark Twain; cartas de amor escritas durante a Guerra Civil Norte-americana, ou cartas escritas para um pai ou mãe por um soldado amedrontado na frente de batalha.
Uma boa carta manuscrita é um ato criativo, e não apenas porque trata-se de um prazer visual e tátil. Isso é um ato deliberado de exposição, uma forma de vulnerabilidade, porque a redação manuscrita abre uma janela para a alma de uma forma que a comunicação por computador jamais será capaz de fazer. A gente saboreia a chegada dela e mais tarde toma o cuidado de guardá-la em segurança em uma caixa.
Sim, o e-mail é uma invenção maravilhosa. Ele conecta pessoas de todo o mundo, destruindo em um instante as barreiras geográficas enfrentadas pela correspondência comum. Mas, o e-mail é por natureza efêmero e carece daquela centelha de personalidade que só a redação manuscrita é capaz de proporcionar. Quando recebemos um e-mail, nunca somos capazes de saber se fomos os únicos destinatários – e sequer se a mensagem é original.
Sempre gostamos de examinar as cartas de grandes figuras como Winston Churchill e Abigail Adams devido à inspiração que elas nos proporcionam: a escrita, as rasuras, a própria sensação de história transmitida pelo papel.
Sentada aqui, saboreando a chegada iminente da próxima carta da minha sogra, eu me pergunto qual será o legado da era de redação digital de cartas.
Catherine Field é jornalista e mora em Paris.
Tradução: UOL
sábado, 18 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
domingo, 5 de dezembro de 2010
Força Tarefa!
DANUZA LEÃO
Do começo
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Só no Rio o tráfico domina territórios; para a cidade se reerguer, é fundamental a ajuda dos cariocas
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O RIO DE JANEIRO continua lindo, mas pensar que a paz reina sobre a cidade é ilusão. Paira no ar um excesso de ufanismo, mas é preciso ser muito ingênuo para achar que os problemas estão resolvidos; longe disso. A cocaína e a heroína davam um bom lucro, mas como o crack é muito mais barato, os empresários estão se sentindo prejudicados, mesmo tendo dobrado os preços. É preciso recuperar o dinheiro que não entra mais.
A droga existe -e vai continuar a existir- em quase todas as grandes capitais do mundo, mas só no Rio o tráfico toma conta de territórios, onde só entra quem os traficantes deixam. Um "Estado" dentro de outro -como o Vaticano dentro de Roma, com todo o respeito.
Mas existem coisas difíceis de entender: por exemplo, como as UPPs conseguiram pacificar alguns morros sem um só tiro, um só morto? Milagre, ou capacidade das nossas polícias? E onde foram parar todos aqueles bandidos que subiram o morro fugindo dos blindados da Marinha? Aliás, uma curiosidade: para que a Marinha tem blindados?
Todos sabemos que a droga, no mundo todo, movimenta rios de dinheiro. Não devem ser esses pobretões que vemos na TV, de sandália de dedo, bermuda e sem camisa que fazem as grandes transações do tráfico. Os que comandam de verdade não moram na "luxuosa" residência triplex, com TVs de plasma -que são vendidas em dez prestações de R$ 99 e que hoje está em todas as casas dos que subiram um degrau na escala social- e com uma piscina de plástico das mais modestas.Mas ninguém sabe o nome de um só dos verdadeiros chefões da droga, que devem morar na zona sul e jamais pisaram em nenhuma favela, nem dos que fazem a ponte entre os traficantes e os chefões. Essa ponte deve existir, é claro, e o tráfico já está se organizando para sobreviver à guerra. É prudente que as autoridades não subestimem o poder de fogo do inimigo.
O verão está chegando, o Carnaval vem aí, a cidade vai entrar em outro clima, as obras necessárias para abrigar a Copa de 2014 estão atrasadas, e a guerra vai continuar. O governador Sérgio Cabral vai ter que se virar para dar conta de tudo que o Rio precisa para que a cidade não dê vexame, de preferência viajando menos.
Liberdade, abre as asas sobre nós é um lindo samba, mas não corresponde à realidade; a guerra não acabou, e não sei de quem a população tem mais medo: se dos traficantes ou de certos policiais.
A sociedade civil tem que colaborar, é o que se ouve. Mas como? Se todos os usuários de droga parassem de se drogar, o tráfico acabaria. Mas não dá para esperar esse belo gesto de cidadania.
Talvez, para o Rio se reerguer, seja preciso começar do começo, mas para isso é fundamental a ajuda dos cariocas. Corrigindo, por exemplo, um de seus hábitos mais banais, como dirigir falando ao celular. E quando isso acontecer, não tentar se livrar do flagra dando uma cervejinha para o policial. São dois crimes, sendo que o segundo é mais grave, e se chama suborno.
Pensando bem, não conheço uma só pessoa que não faça isso. E também nunca ouvi falar de policial que tenha recusado o "agrado".
danuza.leao@uol.com.br
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